07 January, 2011

Arqueologia Denis Augusto Carneiro Lobo - 18/01/2011 - ciclo

Em uma sala, as pessoas se dispõem da forma que acham mais conveniente, todos, publico e performers, misturados, formando um agregado de pessoas que compartilham um mesmo momento, esse momento, dialeticamente, diferente em cada interpretação pessoal.

Luz ambiente, conversas habituais, e então, é ligado o som na rádio FM local, dançante, de preferência. As pessoas que se sentirem a vontade começam a dançar, puxados pelos performers, passos, dos mais diversos, os que sentirem vontade de fazer, embalados pela musica, soltar o corpo. A leveza das sensações habituais e o descaso com o pensar (o cogito) exigido pela racionalidade ocidental, de repente é levada por uma vontade de pular, rolar, dar cambalhota, enfim, o corpo (re)apresentando a liberdade do movimentar.

O som para, acende-se uma luz amarela, seca, dando o aspecto de aridez que irrompe também nas expressões dos participantes-expectadores. Cada um escolhe um espaço, até então vazio, representando a desterritorialização, e se apossa do local. Concentra-se em uma parte do seu corpo, qualquer parte, e começa a sacudi-la, seguindo um ritmo ou não, seguindo seu próprio ritmo ou embalado pelo ritmo do outro, na expectativa de atingir a expectativa do outro, ou no simples propósito de sacudir, representando o movimento de um socius, um grupo e seus participantes. A vontade de um grupo e o individuo em relação ao grupo.

A partir de então, cada pessoa começa a tentar interagir com o outro, com o grupo, numa condição de corpo com corpo, sacudir com sacudir. Forma e conteúdo em ação. Interação ou invasão? Ordenando-se sacudidas (conteúdo/ação) e corpo (forma) evidencia-se a desordem. O interagir ordenado causando a necessidade do desordenado. A “secura” causada pela sensação dos movimentos de sacudir e das vontades de interagir cessam devagar, em cada um dos participantes; a luz amarela seca vai se apagando lentamente e a acender uma luz vermelha, com sensação de quentura, e os participantes agora começam a se prensar, corpo com corpo, todos, um contra o outro, um a favor do outro, enfim, formando um circulo cujo o centro cada vez muda, não é fixo e nem se pretende.

O corpo exercendo força, a força exercida sobre o corpo. A força e o corpo representados por vetores. A dança e a física. As forças do grupo e o corpo do individuo. Como esse corpo é atingido por essa força? O que essa força exerce no individuo? O corpo/individuo aguenta a interação com essa força? O individuo é expelido. Como uma espinha. A força exercida pelo grupo foi como a lava de um vulcão.

Diante dessa situação, o corpo se vê violado. O individuo se vê em estado de não normalidade em relação ao grupo. Louco? Talvez...Não ordenado? Ou não disposto a ordenação?

Acende-se uma luz branca muito forte, tornando o ambiente com um aspecto de quarto de reclusão de clinica psiquiátrica. No cenário, encontra-se uma espécie de rede de camisas, feita prendendo-se o botão de uma na outra. Uma teia de relações, de consumo. Camisas das mais diferentes cores e marcas. Presas uma a outra. Os participantes entram no emaranhado de camisas. Cada um tenta entrar em uma camisa. Em várias camisas. Vão passando de uma para a outra. Os próprios participantes se entrelaçando, passando um sobre o outro. Seguindo esse movimento. Convivências, relações, forças, grupo, individuo, concorrência, loucura.

Fica-se nesse movimento por 15 min. Encerra-se.